terça-feira, 4 de março de 2014

A RIBEIRA DE PANOIAS

A RIBEIRA DE PANOIAS
A Ribeira de Panoias também chamada de Rio Torto nasce na freguesia de Gondizalves, atravessa parte de freguesia de Semelhe, estando inclusive representada no seu Brasão, desce uma pequena encosta e como se quisesse fugir do seu destino final desenha um sinuoso caminho no sentido contrario ao rio Cávado, finalmente vencido pela lei da física dá uma volta apertada e deixa-se seguir lentamente embora continuando a serpentear pelas terras planas de Frossos, Panoias e Mire de Tibães.
Outrora esta ribeira era uma fonte de riqueza, pois a suas águas límpidas, eram utilizadas pelos proprietários ou pelos caseiros para rega dos terrenos que a marginavam, mas também fazia funcionar inúmeros moinhos ao longo dos seus quase 17km de percurso. Destes moinhos ainda restam vestígios e julgo que algum ainda fará a sua função.
Na minha memória está bem presente a limpidez dessas águas, quando ainda criança, por alturas da catequese na capela da Sra. do Ó, eu e outros da minha idade, em cima de umas pedras que serviam de lavadouro e com as mãos em concha bebíamos daquela água, enquanto víamos circular alguns peixes e girinos (colherezinhas lhe chamava-nos nós). Na superfície as libelinhas (para nós tira olhos, não sei porquê) e um insecto com umas patas bem compridas para o seu corpo e que nós tratávamos por alfaiate, (ainda agora não sei o nome).
Era fácil ver ao longo das margens, pescadores que pacientemente por entre choupos e amieiros exerciam o seu passatempo, quase sempre com êxito pois a ribeira tinha vida.
 A Ribeira de Panoias ou o Rio Torto como também é conhecido morreu, morreu pela incúria de todos nós, mas morreu acima de tudo pela incúria daqueles que tinham a obrigação de proteger o património de todos.
A degradação deste Rio não tem mais que 25 anos e aconteceu num tempo em que as politicas ambientais já fazia parte do discurso político, mas como sempre muito longe dessas práticas.
As causas parecem-me bem visíveis, uma politica de urbanização desordenada permitindo descargas de saneamento acima de tudo doméstico, é possível que algumas vezes ilegalmente, directamente no Rio. Mas o Rio tem, como já disse cerca de 17km de comprimento, será assim tão difícil fiscalizar todo o seu percurso e detectar todas as situações ilegais, corrigindo-as e sancionando quem prevaricou?
A colocação de uma ETAR em Frossos, pelos vistos subdimensionada, junto a este rio, que apesar de algum tratamento de águas, mesmo assim descarrega efluentes acima da capacidade de depuração deste. A condução directa de águas pluviais que em alguns dias atinge um volume muito superior ao que permite a zona de cheias, a construção e a permissão da construção de aterros, e neste caso bem visíveis que só por incúria ou insensibilidade ambiental é que não se actua, estes aterros reduzem ou mesmo acabam com a referida zona de cheias.
Morreu também sem honra, pois não morreu em nome do progresso mas muito da especulação e morreu também sem beleza pois as suas águas já não são límpidas nem transparentes, antes deixam um cheiro fétido e terrenos alagados com lodos de um aspecto absolutamente repugnante.
É este agora o Rio Torto da minha infância.

     

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