segunda-feira, 10 de março de 2014

A IGREJA DO CONVENTO

A IGREJA DO CONVENTO

A meio da encosta verde, de frente para o vale do Cávado o contraste entre a natureza e o construído pelo homem ainda é mais evidente. O Mosteiro de Mire de Tibães é presença assídua na minha vida quotidiana, não porque lá vá todos os dias, mas todos os dias os meus olhos o encontram. Ao longe ao entardecer ainda me parece mais solene e é possível sentir o silêncio em oração dos monges que o construíram e habitaram. A sua localização incentiva a diversas contemplações. Uma virada para o exterior, a partir das varandas e janelas a paisagem a perder de vista ao longe montes e colinas e bem mais perto um rio “ O Cávado” na sua incessante busca do mar, e claro a paisagem já moldada pelo homem, de que se destacam como marcas de fé, algumas torres de Igrejas de terras vizinhas. Mas também uma contemplação virada para o interior do Mosteiro, os seus amplos corredores, que no seu silêncio convidam a um olhar interior, os claustros que nos seus já incompletos azulejos, vão narrando uma história exortando cada um, nas suas circunstancias a uma imitação de vida. Os jardins e a mata, natureza construída pelo homem facilitadora da busca do infinito, como se ao intervir assim na natureza, os monges quisessem construir uma réplica do Paraíso.
Como corolário a Igreja construída num tempo em que a pressa não estava presente, o prazo era ditado pelos meios existentes e muitas vezes pela generosidade de todo um povo, os prazos das obras não estavam ligadas à necessidade do poder. Provavelmente a própria construção Igreja foi tempo de oração permanente, dando forma ao lema dos monges que habitaram o Mosteiro, “ Oração e Trabalho”. Esse tempo sem pressa concretizou-se na elaboração de um embelezamento interior que mesmo agora nos fascina. Todo o interior da Igreja nos prende o olhar desde o Altar- Mor aos altares laterais, é impossível ficar indiferente. E é também por essa exuberante arte que somos, convidados a contemplação se os olhos ficam como parados o espírito abre-se e sente.
Não sou especialista como é visível na discrição muito resumida que faço deste autêntico hino à arte humana impregnada de Fé, outros farão isso com mais qualidade técnica e histórica, mas o que me levou a escrever este texto, foi uma data que me parece ter passado quase despercebida.
À entrada da Igreja do lado esquerdo esta colocada uma lápide que diz a seguinte frase, que escrevo a seguir de memória.
“ Principiou-se este templo no Ano de 1628 e acabou-se no Ano de 1661”.
Este ano depois de cerca de 33 anos de construção, a Igreja do Mosteiro, corpo essencial de todo o Mosteiro faz ou já fez 450 anos de existência, 450 anos talvez merecesse alguma lembrança especial, no entanto não me lembro de grandes referências a este acontecimento. Presença constante na nossa vida de todos os dias a Igreja do Mosteiro de Mire de Tibães, foi pouco lembrada nesta data por todos nós, tão preocupados com a crise que nos corrói e desune, e tão pouco atentos a símbolos que fazem parte da nossa identidade e podem contribuir para cimentar a unidade necessária que precisamos de ter


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