A
IGREJA DO CONVENTO
A meio da encosta
verde, de frente para o vale do Cávado o contraste entre a natureza e o
construído pelo homem ainda é mais evidente. O Mosteiro de Mire de Tibães é
presença assídua na minha vida quotidiana, não porque lá vá todos os dias, mas
todos os dias os meus olhos o encontram. Ao longe ao entardecer ainda me parece
mais solene e é possível sentir o silêncio em oração dos monges que o
construíram e habitaram. A sua localização incentiva a diversas contemplações.
Uma virada para o exterior, a partir das varandas e janelas a paisagem a perder
de vista ao longe montes e colinas e bem mais perto um rio “ O Cávado” na sua
incessante busca do mar, e claro a paisagem já moldada pelo homem, de que se
destacam como marcas de fé, algumas torres de Igrejas de terras vizinhas. Mas
também uma contemplação virada para o interior do Mosteiro, os seus amplos
corredores, que no seu silêncio convidam a um olhar interior, os claustros que
nos seus já incompletos azulejos, vão narrando uma história exortando cada um,
nas suas circunstancias a uma imitação de vida. Os jardins e a mata, natureza
construída pelo homem facilitadora da busca do infinito, como se ao intervir
assim na natureza, os monges quisessem construir uma réplica do Paraíso.
Como corolário a Igreja
construída num tempo em que a pressa não estava presente, o prazo era ditado
pelos meios existentes e muitas vezes pela generosidade de todo um povo, os
prazos das obras não estavam ligadas à necessidade do poder. Provavelmente a
própria construção Igreja foi tempo de oração permanente, dando forma ao lema
dos monges que habitaram o Mosteiro, “ Oração e Trabalho”. Esse tempo sem
pressa concretizou-se na elaboração de um embelezamento interior que mesmo
agora nos fascina. Todo o interior da Igreja nos prende o olhar desde o Altar-
Mor aos altares laterais, é impossível ficar indiferente. E é também por essa
exuberante arte que somos, convidados a contemplação se os olhos ficam como
parados o espírito abre-se e sente.
Não sou especialista
como é visível na discrição muito resumida que faço deste autêntico hino à arte
humana impregnada de Fé, outros farão isso com mais qualidade técnica e
histórica, mas o que me levou a escrever este texto, foi uma data que me parece
ter passado quase despercebida.
À entrada da Igreja do
lado esquerdo esta colocada uma lápide que diz a seguinte frase, que escrevo a
seguir de memória.
“ Principiou-se este
templo no Ano de 1628 e acabou-se no Ano de 1661”.
Este ano depois de
cerca de 33 anos de construção, a Igreja do Mosteiro, corpo essencial de todo o
Mosteiro faz ou já fez 450 anos de existência, 450 anos talvez merecesse alguma
lembrança especial, no entanto não me lembro de grandes referências a este
acontecimento. Presença constante na nossa vida de todos os dias a Igreja do
Mosteiro de Mire de Tibães, foi pouco lembrada nesta data por todos nós, tão
preocupados com a crise que nos corrói e desune, e tão pouco atentos a símbolos
que fazem parte da nossa identidade e podem contribuir para cimentar a unidade
necessária que precisamos de ter
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