A
RIBEIRA DE PANOIAS
A Ribeira de Panoias
também chamada de Rio Torto nasce na freguesia de Gondizalves, atravessa parte
de freguesia de Semelhe, estando inclusive representada no seu Brasão, desce
uma pequena encosta e como se quisesse fugir do seu destino final desenha um
sinuoso caminho no sentido contrario ao rio Cávado, finalmente vencido pela lei
da física dá uma volta apertada e deixa-se seguir lentamente embora continuando
a serpentear pelas terras planas de Frossos, Panoias e Mire de Tibães.
Outrora esta ribeira
era uma fonte de riqueza, pois a suas águas límpidas, eram utilizadas pelos
proprietários ou pelos caseiros para rega dos terrenos que a marginavam, mas
também fazia funcionar inúmeros moinhos ao longo dos seus quase 17km de
percurso. Destes moinhos ainda restam vestígios e julgo que algum ainda fará a
sua função.
Na minha memória está
bem presente a limpidez dessas águas, quando ainda criança, por alturas da catequese
na capela da Sra. do Ó, eu e outros da minha idade, em cima de umas pedras que
serviam de lavadouro e com as mãos em concha bebíamos daquela água, enquanto
víamos circular alguns peixes e girinos (colherezinhas lhe chamava-nos nós). Na
superfície as libelinhas (para nós tira olhos, não sei porquê) e um insecto com
umas patas bem compridas para o seu corpo e que nós tratávamos por alfaiate,
(ainda agora não sei o nome).
Era fácil ver ao longo das
margens, pescadores que pacientemente por entre choupos e amieiros exerciam o
seu passatempo, quase sempre com êxito pois a ribeira tinha vida.
A Ribeira de Panoias ou o Rio Torto como
também é conhecido morreu, morreu pela incúria de todos nós, mas morreu acima
de tudo pela incúria daqueles que tinham a obrigação de proteger o património
de todos.
A degradação deste Rio
não tem mais que 25 anos e aconteceu num tempo em que as politicas ambientais
já fazia parte do discurso político, mas como sempre muito longe dessas
práticas.
As causas parecem-me
bem visíveis, uma politica de urbanização desordenada permitindo descargas de
saneamento acima de tudo doméstico, é possível que algumas vezes ilegalmente, directamente
no Rio. Mas o Rio tem, como já disse cerca de 17km de comprimento, será assim
tão difícil fiscalizar todo o seu percurso e detectar todas as situações ilegais,
corrigindo-as e sancionando quem prevaricou?
A colocação de uma ETAR
em Frossos, pelos vistos subdimensionada, junto a este rio, que apesar de algum
tratamento de águas, mesmo assim descarrega efluentes acima da capacidade de
depuração deste. A condução directa de águas pluviais que em alguns dias atinge
um volume muito superior ao que permite a zona de cheias, a construção e a
permissão da construção de aterros, e neste caso bem visíveis que só por
incúria ou insensibilidade ambiental é que não se actua, estes aterros reduzem
ou mesmo acabam com a referida zona de cheias.
Morreu também sem
honra, pois não morreu em nome do progresso mas muito da especulação e morreu
também sem beleza pois as suas águas já não são límpidas nem transparentes,
antes deixam um cheiro fétido e terrenos alagados com lodos de um aspecto
absolutamente repugnante.
É este agora o Rio
Torto da minha infância.