sábado, 17 de maio de 2014

FELIZ ANIVERSÁRIO AMIGA

FELIZ ANIVERSÁRIO AMIGA

Nasceste pelo signo de uma princesa
Referendada pela luz suave da lua 
Cresceste na sabedoria da incerteza
Vês o mundo com uma visão apenas tua

À vida quotidiana dás pela escrita magia
Encontras beleza onde existe normalidade
Tanto estas triste como explodes de alegria
São estas perplexidades que trazem saudade

Poderias ser uma triste ou alegre canção 

Não sei se escolheste, ou apenas és assim
Melancolia sonho magia silêncio emoção
Foi assim que te imaginei dentro de mim.


Um retrato pobre e incompleto
Neste dia do teu aniversário
Que o teu tempo seja sempre repleto
Do que a vida tem extraordinário

Feliz aniversário.

Bjs 

quinta-feira, 15 de maio de 2014

LITÍGIO

LITÍGIO 

Dona de Bar de Alterne Participa à GNR contra Padre e Beatas

Numa pequena Vila do interior do país, a proprietária de um Bar de Alterne, começou a construção de um anexo do seu estabelecimento no sentido de aumentar e inovar as suas actividades, nomeadamente com a introdução de um espaço para dança de varão.

Em resposta um grupo de “beatas” incentivaram o velho pároco a promover uma campanha para bloquear a expansão do negócio.  
A campanha consistiu na promoção de orações em diversos locais públicos, que daí partiam em procissão para a Igreja, passando pelo diabólico local.

Os trabalhos de construção e reforma continuaram em bom ritmo até uma semana antes da reabertura, quando um raio atingiu o cabaré de Dona Lola, incendiando as instalações eléctricas e causando um incêndio que destruiu tudo.
Dona Lola participou à GNR contra Pároco, as “beatas” e todos os que participaram nas procissões, com o fundamento de que foram eles os responsáveis, pelo fim de seu prédio e do seu negócio, seja através de acções ou meios de intervenção divina, directa ou indirecta.

Na resposta à participação, os demandados, designadamente o pároco e as “beatas”, negaram com veemência toda e qualquer responsabilidade ou ligação das suas orações com o fim da casa de alterne.

O comandante do posto da GNR que ouviu as duas partes, escreveu ao seu superior a pedir conselhos uma vez que a situação lhe fazia confusão.
Colocando-lhe as seguintes questões.

-"Não sei como vou decidir neste caso, porquanto pelo que ouvi até agora, tem-se:

- Uma proprietária de uma casa de alterne que acredita firmemente no poder das orações;


- E um Padre mais um grupo de “beatas” que pensam que as orações não valem nada.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

SONETO PARA OS AMIGOS


SONETOS PARA OS AMIGOS

Encontrar-te aqui, acaso não pensado
Entre tantos que na NET tem abrigo
Surges tu meu velho e novo amigo
Como encontro do destino já marcado

É como se estivesses sempre ao meu lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como és para mim compreensivo comigo.

És um bicho igual a mim, pois és humano
És capaz de me irritar e comover
E sabes disfarçar se me levas ao engano.

Ser amigo é coisa que não se explica
Uma forma de num outro renascer
Não é o corpo, é a alma que se multiplica

sábado, 3 de maio de 2014

COMO SE PARTE DE IDADE

Como se Parte da Idade

Como se morre da Idade
Morre-se de acidente ou doença,
Morre-se com naturalidade
Triste é morrer de indiferença.·

Da indiferença se morre
Partir assim, é dor mais intensa
É dor que magoa e faz pobre
 Tu sabes Senhor, esta dor é imensa.

Na presença terra firme
Na ausência pantanal
Dá-me Senhor quem me anime
E olhe para mim como igual.

Livra-me Senhor, de Auroras
Tristes frias e sem esperança
 Nos dias em que as demoras
Retiram alegria e confiança.

Não quero vida amarga e triste
Mas sentir nos meus, Tua presença
Saber que com eles a vida existe
E não partirei de indiferença.

(Que eu possa dizer assim
Um dia na Tua presença
Chegou o dia do fim
Mas não parti de indiferença)


sexta-feira, 4 de abril de 2014

PERSEGUIÇÃO

PERSEGUIÇÃO

Tinha saído da escola mais tarde que o habitual, a mãe sempre recomendara:
- Logo que acabem as aulas tomas o autocarro e regressas.
 Mas o dia anterior tinha sido especial fizera anos e não resistira a mostrar às amigas o novo telemóvel, não se tinha apercebido do tempo passar, estava já a imaginar as palavras da mãe, ia imaginando as desculpas, afinal mesmo a pé da escola à casa não eram mais que vinte minutos, e parte do caminho seria feito na companhia de algumas colegas.
 Era Novembro o tempo estava mau, passava das dezoito e trinta e era bem escuro, para ainda complicar mais as coisas a iluminação pública estava desligada.
- Decerto por avaria: - murmurou.
A distância entre a escola e a rua principal foi passada entre risos e conversas, quando lá chegaram as amigas viraram à esquerda e ela em sentido contrário, seria cerca de quinhentos metros sozinha, apesar da escuridão queria não ter medo, ainda não tinha percorrido mais que algumas dezenas de metros quando viu aproximar-se um vulto de um homem numa rua que confluía para a principal, instintivamente colou-se à parede batendo sem querer com a mochila nesta, notando que lhe tinha caído qualquer coisa,
 -Um lápis: Pensou,
Mas não parou antes acelerou mais o passo, subitamente aos seus ouvidos chegou o ruído de um arfar de respiração e passos mais rápidos. Em pânico, não sabia o que fazer nem lhe saiam sons da garganta. Tentou ensaiar uma corrida mas as pernas não lhe obedeciam, ela podia escutar passos ainda mais apressados como que a responder à sua reacção e já não arfar mas autênticos rugidos, e aquilo que lhe pareceu uma ordem para parar.
O vulto, atrás ia balbuciando:
- Tenho que a apanhar antes de ela mudar de rua, se isso acontecer não sei como a identificar.
-Vou chamar por ela:-Decidiu:
Mas o caminho já andado e a aceleração daqueles últimos metros impediam-no de gritar, saiu um som frouxo e que ele duvidou que ela tivesse ouvido, tentou acelerar mais o passo, tinha mesmo que a apanhar.
O som que chegou aos ouvidos dela, parecia um miar de mocho, assustou-a mais, a noite parecia ter ganho cores ainda mais negras, as suas pernas apesar de jovens recusavam-se a andar, pelo menos a ela parecia-lhe isso, e no entanto sabia que bastava continuar a manter a distância durante mais alguns minutos e chegaria a casa, ao conforto da casa, ao abraço da mãe, pela cabeça passaram-lhe algumas orações da catequese, não sabia bem se as pensava correctamente, mas o tempo não era de preciosismo. Tinha dois desejos, chegar a casa e fugir daquele monstro. Um desejo trazia o outro.
Lá atrás o vulto fez mais uma tentativa de chegar perto do seu objectivo, acelerou o mais que pode o passo, chamou a si todas as energias disponíveis, e iniciou uma nova etapa em direcção ao alvo, sabia que se ela muda-se de direcção nunca mais lhe ponha os olhos em cima, tinha pouco mais de uma centena de metros antes do aparecimento de uma nova rua, no caso à esquerda se ela vira-se aí com a distância que levava perdê-la-ia de vista para sempre, com aquela escuridão dificilmente a conseguiria identificar, para a abordar mais tarde. A partir daí pensaria o que fazer.
Ela não se atrevia a olhar para trás a escuridão continuava e ninguém na rua, parecia que tudo estava contra, na rua do lado direito algumas casas mas mostrou-se incapaz de tocar numa campainha e pedir ajuda, a paralisação física parecia total, no lado esquerdo apenas um extenso matagal que naquela escuridão projectava sombras assustadoras o vento fazia agitar as folhas das árvores e arbustos fazendo-as semelhantes a horríveis monstros que só via na televisão, sim nos desenhos animados até era divertido, sentia no peito o bater rápido do coração, não conseguia perceber mas sabia que tinha medo muito medo.
Continuando a sua marcha no limite das suas forças o vulto ia planeando:
 -Ela leva trinta, quarenta metros à minha frente, se eu fizer uma corrida, em menos de um minuto apanhou-a e resolvo o problema antes que seja tarde demais, é a minha última tentativa, depois desisto.
Iniciou a corrida de forma desajeitada, não só pelo cansaço, mas também devido à sua estrutura física, um esforço final e apesar do seu muito querer ia ter que desistir.
Não foi logo que ela notou da corrida iniciada pelo perseguidor, porém logo que o fez, apoderou-se totalmente dela o pânico, trazendo a si toda a coragem que ainda restava ganhou forças e arrancou numa corrida a uma velocidade de que não se julgava capaz, rapidamente alcançou o limite da sua rua era aquela que sempre lhe parecia muito perto mas que agora estava a uma distância enorme, a rua continuava deserta a sua casa era logo das primeiras bastava tocar que aquela hora a mãe sabia que era ela e abriria o portão sem perguntar nada.
Ela era jovem e o monstro não, ganhou uma vantagem confortável colou a mão a campainha e não a tirou de lá enquanto a mãe não abriu, entrou de rompante batendo com estrondo o portão de entrada, correu para a porta traseira de casa como habitual, e finalmente libertando-se num choro nervoso e confusamente tentou contar o que se tinha passado.
Naquela hora um tio e um primo tinham passado em casa, deixaram-na acalmar e perceberam que um homem a tinha perseguido, enquanto vinha para casa e que tinha começado a correr atrás dela, mas ela conseguiu fugir.
Armaram-se cada qual com o seu pau e vieram ver se na rua estava alguém, espreitaram do lado de dentro do muro com cuidado de facto a escuridão não facilitava e eles não queriam acender a iluminação da casa para não o espantar, num primeiro olhar não viram ninguém, no entanto a jovem encheu-se de coragem e olhando bem ao longo da rua disse:
- É aquele que esta ali encostado ao muro ao fundo da rua, do lado direito.
 De facto ao fundo da rua via-se alguém que apoiava as mãos no muro e que parecia respirar com alguma dificuldade, como se tivesse feito um grande esforço e nesse momento estivesse a tentar recuperar.
Tio e sobrinho pegaram nos respectivos paus e deram uma corrida veloz em direcção ao homem, que continuava a arfar numa tentativa de normalizar a respiração.
Quando iniciou a corrida para se tentar aproximar da jovem o homem não contou com a reacção desta, mesmo assim não desistiu queria ao menos saber onde ela vivia, no entanto longe de diminuir, a distância foi aumentando tornando cada vez mais difícil cumprir sequer o mínimo que se propusera, saber onde ela vivia, não desistiu e correu até ao fim sabia que ela não o iria ouvir pois gritar e correr nas condições físicas e principalmente com o peso que tinha, não era fácil, bem sabia que precisava de exercício, mas não era aquela a ocasião para se lamentar, ou para fazer propósitos para o futuro. O que mais temia aconteceu, na primeira rua à esquerda ela virou e ele já levava um atraso considerável, só com sorte saberia qual era a casa onde ela entraria, tentou mais um pouco.Com esperança reflectiu.
-Talvez alguma iluminação durante a entrada, permita identificar onde ela mora.
 Por isso não desistiu, chegou ao limite da rua olhou e tudo deserto nada de iluminação nada de pessoas. Finalmente desistiu e permitiu-se um descanso apoiou os braços nas grades do muro e foi respirando apressadamente precisava de tempo para normalizar os batimentos do coração, precisava de tempo para normalizar a respiração, depois pensaria o que fazer, subitamente notou um alarido e os seus olhos e sentidos nem queriam acreditar sentiu o choque de uma vara a atingir-lhe as costas e a cabeça, sentiu uma forte pancada seguida de uma dor violenta junto a orelha o sangue a correr pelo pescoço e gola do casaco, instintivamente virou-se levantou os braços em protecção, com uma mão bem levantada segurando um objecto.
Quando se voltou, tio e sobrinho ficaram espantados, olhavam para a pessoa e nem queriam acreditar aquela pessoa a perseguir uma menina?
- O Senhor não tem vergonha: - Disseram.
- Vergonha! Vergonha! De quê? – Respondeu espantando e incrédulo
- Então a perseguir uma rapariga que podia ser sua neta? - Insistiram
- Perseguir uma rapariga? Eu? – Gritou desesperado 
- Eu queria era entregar-lhe este telemóvel que ela deixou cair à saída da rua da escola.
Abriu a mão mostrando o telemóvel novo oferecido nos anos, e que ele reparara que caíra quando a rapariga tinha tropeçado de encontro à parede.   




segunda-feira, 24 de março de 2014

CHOVE

           CHOVE

Chove o céu está cinzento
A chuva é contrária ao ser
Eu sinto no meu pensamento
Chuva intensa nele a escorrer

Vivo uma grande tristeza
Falo verdade ou minto?
Quero dizer com certeza
Aquilo que em mim sinto

Sei que verdadeiramente
Vivo entre o sonho e a ilusão
Mas quando a chuva cai levemente
Porque a Musa o consente

Encharca o meu coração

sexta-feira, 14 de março de 2014

SURREAL OU SONHO??

SURREAL OU SONHO
Sinto um murmúrio no espaço, que entra no meu pensamento, pensamento ou sonho?
Sem falar interrogo? – Porque estas aqui?
Uma força empurra-me para fora de mim. De quem é este corpo que tenta libertar-se do caixilho onde o emolduraram?
– Mas será caixilho ou cama. – Indago
-Sou eu? Pergunto-me
- Porque me sinto preso e liberto?
Espanto-me!!
Avisto-a e avisto os raios de luz que me indicam a sua presença.
Tão sedutora como uma maça, tão miragem como um fogo-fátuo.
Estendo o braço, que não me obedece.
-Que vivo eu?
Tento alcançar a maça?
Porque sinto uma impossível presença?
Eu sei que será sempre inatingível, não sei se ela o sabe, mesmo assim digo.
 – Deixa-me surrealizar o meu sonho.
-Surrealiza-me.
Respondem: Ela a maça ou o sonho?
Acordo, não sei.


quarta-feira, 12 de março de 2014

TU SABES..

TU SABES

À vezes se te lembras procurava-te
Detinha-me em ti, esgotava-me e perdia-me
Sabia que haver-te perdido era encontrar-te
E nessa dança de viver me comprazia

Não percebendo no fundo que dizer-te
A distância de tempo e de espaço não existia
Indispensável era ter-te para perder-te
Num ciclo que se repetia dia a dia

Era tudo tão complexamente natural
Vivia das tuas palavras e da tua imagem
Sem saber como chegou um dia fatal
Que em mim te imortalizaste como miragem

É com espanto que ao espelho me olho
Espantado diviso-te naquilo que me restas
Acredita o que faço, não sou eu que escolho
Sei no caminho, não faço parte das tuas metas.



segunda-feira, 10 de março de 2014

A IGREJA DO CONVENTO

A IGREJA DO CONVENTO

A meio da encosta verde, de frente para o vale do Cávado o contraste entre a natureza e o construído pelo homem ainda é mais evidente. O Mosteiro de Mire de Tibães é presença assídua na minha vida quotidiana, não porque lá vá todos os dias, mas todos os dias os meus olhos o encontram. Ao longe ao entardecer ainda me parece mais solene e é possível sentir o silêncio em oração dos monges que o construíram e habitaram. A sua localização incentiva a diversas contemplações. Uma virada para o exterior, a partir das varandas e janelas a paisagem a perder de vista ao longe montes e colinas e bem mais perto um rio “ O Cávado” na sua incessante busca do mar, e claro a paisagem já moldada pelo homem, de que se destacam como marcas de fé, algumas torres de Igrejas de terras vizinhas. Mas também uma contemplação virada para o interior do Mosteiro, os seus amplos corredores, que no seu silêncio convidam a um olhar interior, os claustros que nos seus já incompletos azulejos, vão narrando uma história exortando cada um, nas suas circunstancias a uma imitação de vida. Os jardins e a mata, natureza construída pelo homem facilitadora da busca do infinito, como se ao intervir assim na natureza, os monges quisessem construir uma réplica do Paraíso.
Como corolário a Igreja construída num tempo em que a pressa não estava presente, o prazo era ditado pelos meios existentes e muitas vezes pela generosidade de todo um povo, os prazos das obras não estavam ligadas à necessidade do poder. Provavelmente a própria construção Igreja foi tempo de oração permanente, dando forma ao lema dos monges que habitaram o Mosteiro, “ Oração e Trabalho”. Esse tempo sem pressa concretizou-se na elaboração de um embelezamento interior que mesmo agora nos fascina. Todo o interior da Igreja nos prende o olhar desde o Altar- Mor aos altares laterais, é impossível ficar indiferente. E é também por essa exuberante arte que somos, convidados a contemplação se os olhos ficam como parados o espírito abre-se e sente.
Não sou especialista como é visível na discrição muito resumida que faço deste autêntico hino à arte humana impregnada de Fé, outros farão isso com mais qualidade técnica e histórica, mas o que me levou a escrever este texto, foi uma data que me parece ter passado quase despercebida.
À entrada da Igreja do lado esquerdo esta colocada uma lápide que diz a seguinte frase, que escrevo a seguir de memória.
“ Principiou-se este templo no Ano de 1628 e acabou-se no Ano de 1661”.
Este ano depois de cerca de 33 anos de construção, a Igreja do Mosteiro, corpo essencial de todo o Mosteiro faz ou já fez 450 anos de existência, 450 anos talvez merecesse alguma lembrança especial, no entanto não me lembro de grandes referências a este acontecimento. Presença constante na nossa vida de todos os dias a Igreja do Mosteiro de Mire de Tibães, foi pouco lembrada nesta data por todos nós, tão preocupados com a crise que nos corrói e desune, e tão pouco atentos a símbolos que fazem parte da nossa identidade e podem contribuir para cimentar a unidade necessária que precisamos de ter


sexta-feira, 7 de março de 2014

QUE MUDAMOS??

Prefácio à quarta edição dos “ Contos da Montanha”


Depois de muitos anos de desterro, regressam novamente ao torrão natal os heróis deste atribulado livro. Nesta época em que tantos portugueses de carne e osso emigraram por fome de pão, exilaram-se eles, lusitanos de papel e tinta, por falta de liberdade.
Enfarpelados num duro surrobeco de embarcadiços, lá se foram afoitamente em demanda do Brasil, o seio sempre acolhedor das nossas aflições. E ali viveram, generosamente acarinhados assistidos de longe pela ternura correctiva do autor. Voltam agora ao berço, roídos de saudade. E não é sem apreensão que os vejo pisar, já menos toscos de aparência o amado chão de origem. É que muita água correu sob a ponte desde que se ausentaram. Quatro décadas de opressão desfiguraram completamente a paisagem do país. A humana e a outra. Velhos desamparados, adultos desiludidos, jovens revoltados – num palco de desolação. Almas amarfanhadas e terras em pousio. Que alento poderá receber dum ambiente assim, uma esperança de torna-viagem? Mas a pátria é um íman, mesmo quando a universalidade do homem, como neste preciso momento, sai finalmente dos limites tacanhos do planeta. Poucos resistem à sua atracção ao verem-se longe dela, seja qual for a órbita em que se movam. Até os seus filhos de ficção. Por mais fortuna que tenham pelo mundo a cabo, é com o ninho onde nasceram que sonham noite e dia. É que só nele se exprimem correctamente, estão cetos os seus gestos, são realmente quem são. De maneira que não me atrevi a contrariar a vinda das minhas humildes criaturas, como a prudência talvez aconselhasse. Pelo contrário: favoreci-a. Pode ser que o exemplo seja seguido, e o êxodo, que empobreceu a nação, comece a fazer-se em sentido inverso, e as nossas misérias e tristezas mudem de fisionomia. Portugal necessita urgentemente de ser repovoado.

                                                               S. Martinho de Anta, Natal de 1968

                                                                                        Miguel Torga

terça-feira, 4 de março de 2014

A RIBEIRA DE PANOIAS

A RIBEIRA DE PANOIAS
A Ribeira de Panoias também chamada de Rio Torto nasce na freguesia de Gondizalves, atravessa parte de freguesia de Semelhe, estando inclusive representada no seu Brasão, desce uma pequena encosta e como se quisesse fugir do seu destino final desenha um sinuoso caminho no sentido contrario ao rio Cávado, finalmente vencido pela lei da física dá uma volta apertada e deixa-se seguir lentamente embora continuando a serpentear pelas terras planas de Frossos, Panoias e Mire de Tibães.
Outrora esta ribeira era uma fonte de riqueza, pois a suas águas límpidas, eram utilizadas pelos proprietários ou pelos caseiros para rega dos terrenos que a marginavam, mas também fazia funcionar inúmeros moinhos ao longo dos seus quase 17km de percurso. Destes moinhos ainda restam vestígios e julgo que algum ainda fará a sua função.
Na minha memória está bem presente a limpidez dessas águas, quando ainda criança, por alturas da catequese na capela da Sra. do Ó, eu e outros da minha idade, em cima de umas pedras que serviam de lavadouro e com as mãos em concha bebíamos daquela água, enquanto víamos circular alguns peixes e girinos (colherezinhas lhe chamava-nos nós). Na superfície as libelinhas (para nós tira olhos, não sei porquê) e um insecto com umas patas bem compridas para o seu corpo e que nós tratávamos por alfaiate, (ainda agora não sei o nome).
Era fácil ver ao longo das margens, pescadores que pacientemente por entre choupos e amieiros exerciam o seu passatempo, quase sempre com êxito pois a ribeira tinha vida.
 A Ribeira de Panoias ou o Rio Torto como também é conhecido morreu, morreu pela incúria de todos nós, mas morreu acima de tudo pela incúria daqueles que tinham a obrigação de proteger o património de todos.
A degradação deste Rio não tem mais que 25 anos e aconteceu num tempo em que as politicas ambientais já fazia parte do discurso político, mas como sempre muito longe dessas práticas.
As causas parecem-me bem visíveis, uma politica de urbanização desordenada permitindo descargas de saneamento acima de tudo doméstico, é possível que algumas vezes ilegalmente, directamente no Rio. Mas o Rio tem, como já disse cerca de 17km de comprimento, será assim tão difícil fiscalizar todo o seu percurso e detectar todas as situações ilegais, corrigindo-as e sancionando quem prevaricou?
A colocação de uma ETAR em Frossos, pelos vistos subdimensionada, junto a este rio, que apesar de algum tratamento de águas, mesmo assim descarrega efluentes acima da capacidade de depuração deste. A condução directa de águas pluviais que em alguns dias atinge um volume muito superior ao que permite a zona de cheias, a construção e a permissão da construção de aterros, e neste caso bem visíveis que só por incúria ou insensibilidade ambiental é que não se actua, estes aterros reduzem ou mesmo acabam com a referida zona de cheias.
Morreu também sem honra, pois não morreu em nome do progresso mas muito da especulação e morreu também sem beleza pois as suas águas já não são límpidas nem transparentes, antes deixam um cheiro fétido e terrenos alagados com lodos de um aspecto absolutamente repugnante.
É este agora o Rio Torto da minha infância.

     

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

SÓ SOU EXIGENTE POR QUEM TENHO AMIZADE

SÓ SOU EXIGENTE POR QUEM TENHO AMIZADE
Estou a exigir muito de ti? Quem te há-de exigir muito senão eu que sou teu amigo? Como amigo tenho o encargo de não te deixar amolecer, e esforçar-me-ei por o cumprir. Por mim, tu farás tudo o que puderes e sobretudo o que não puderes; porque só há pessoa humana quando se faz o impossível, o possível qualquer bicho faz.  Quando tu saltares e saltares bem, eu esperarei que saltes mais alto, poderá parecer que não me importarei que caias, mas estarei atento para que te levantes. Os fracos vieram para cair mas os fortes vieram para cair e recomeçar sorrindo. Sei que estarás a refilar contra mim e quem sabe desejar que eu fosse menos exigente e te pedisse menos, te deixasse repousar no comodismo, mas do repouso desejarias férias das férias farias vida de gato.

Tenho demasiada amizade por ti para não te alertar para isso, precisas de ter vida de lutadora, nem que seja vida de cão, lutar por uns ossos levar pontapés, ganharás robustez e encontrarás o teu verdadeiro destino. 

sábado, 15 de fevereiro de 2014

CRIANÇAS COM QUEM BRINQUEI

Crianças com quem brinquei (Crónica de fim de semana)
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                           Recordo os últimos anos da década de cinquenta do século XX, os garotos que me acompanharam na escola primária, crianças que a vida flagelou, filhos de mães que pariam quase todos os anos e de pais que se emborrachavam quase todos os dias.
Vínhamos de muitos dos lugares da freguesia, uns descalços outros com chancas todos com uma côdea de pão duro. Todos não, havia o Jorginho filho do Sr. Lopes e da Dona Regina, com botas de nos fazer inveja e a quem nos intervalos das aulas, uma empregada da casa trazia uma merenda, uma coisa do outro mundo para nós. Aprendíamos a ler e a escrever, decorávamos rios e as serras de Portugal, as descobertas, batalhas e outras glórias do país, que nos negava tudo. Passávamos o dia numa escola onde chovia, compreendíamos mal porque se chamava Posto Escolar e porque é que a nossa Professora era Regente Escolar. O vento, a chuva entravam pelas janelas onde faltavam vidros mas mesmo assim melhor que a nossa casa, onde o chão era terra e por cima apenas telhas sem forro.
A primavera e o outono aliviavam os corpos da dureza do clima. A chuva não fazia grande mossa, era pouca a roupa e o corpo conhecia dias piores.
Aprendíamos os cognomes dos reis e os nomes dos filhos bastardos, o esqueleto humano até ao último osso. Muitos desistiram, o abandono escolar era enorme e a necessidade de começar cedo a trabalhar era imperativa. As raparigas iam para criadas de servir os rapazes para trolha, ou com alguma felicidade para tecelões, a têxtil era um emprego de prestígio tornava mais fácil arranjar namorada tinha-se direito à Caixa. Sair da escola a saber ler e escrever dava uma boa expectativa, permitia alimentar a esperança de ir para afinador, o máximo que nos era permitido sonhar. Entretanto o Jorginho vivia a sua vida e uma coisa curiosa só tinha uma irmã ao contrario da maioria de nós, e o seu pai apesar de não frequentar as tabernas constava-se que bebia bebidas “estrangeiras” , para nossa maior confusão havia alguns bébés que nasciam sem pai. Alguns mais espevitados diziam ao Jorginho que eram irmãos dele, não sei, soube depois que eram registados como filhos de pai incógnito.
Nenhum aluno era proposto a exame da 4.ª classe sem dividir e classificar as orações sem hesitação, e todos os alunos que acabaram eram propostos a exame.
Nos intervalos das aulas os rapazes corriam para a horta do senhor Remina e as raparigas para a do senhor Gusto Patas, ou vice-versa, já lá vão tantos anos, e a memória apenas guarda a parede junto à qual circulavam os meninos, colados, para não pisarem o milho ou as batatas, o feijão de estaca e as alfaces, mas evitando trazer nos pés as fezes próprias ou alheias. Curioso ao Jorginho era-lhe tolerado ou a utilização da retrete da Professora ou mesmo a ida a casa, ainda que isso implicasse uma demora mais prolongada.
Depois aproveitávamos o tempo que restava para jogar ao pião, dar pontapés na bola de trapos ou saltar o trinta arreia mosca (que me lembre o Zé Lourenço e o Merco Rolha partiram uma perna), enquanto as meninas disputavam o terreiro a jogar à macaca e a saltar a corda.
Recordo-me do nome de todos, mesmo daqueles que logo ao sair da escola, ou pouco mais a vida levou para outras terras. Lembro-me bem do Tone Barracão, meu colega de carteira que juntamente como o irmão apenas com onze anos deu o salto para França, lembro-me dos que foram vítimas da guerra do ultramar, dos que emigraram, mesmo daqueles que nunca mais vi. E também me lembro do Jorginho, que será feito dele? Viverá ainda? Lembrar-se -á  de nós?
Conhecerá finalmente as irmãs e irmãos incógnitos? Ou aqueles que com ele aprenderam a ler serão apenas uma lembrança ténue e pouco consistente?
É possível, afinal andou connosco mas não fazia parte de nós.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

A PASSAGEM


A PASSAGEM
Era Novembro e chovia, chovia intensamente.
Como de costume nas últimas semanas o Domingo era dedicado a visitar os pais, no apartamento onde vivia localizado numa urbanização incaracterística nos limites da cidade, mais pensado em arrumar pessoas do que em acolher famílias, não se via ninguém na rua.
No carro sentou-se cansada ao lado do marido, um cansaço mais mental que físico que a impregnava intensamente um sufoco de que não se conseguia libertar.
Atrás, o filho mais novo bem preso à cadeira visivelmente incomodado pela liberdade do irmão, protestava sem parar.
Encostou-se no banco e fechou os olhos, o marido virou e perguntou: Estas cansada?
Acenou com a cabeça que não, enquanto pelo espirito passaram as últimas semanas, uma em especial
Naquele dia a mãe começara a falar, tão estranhamente que não esperava nem respostas nem reações embora se lhe dirigisse, pois os olhos estavam fixos nela, sentia que não a chegava a ouvir.
Num recomeço a mãe recostou-se no espaldar da sua cadeira, enquanto tinha falado as costas um pouco separadas do encosto, como quando alguém intervém publicamente numa tertúlia, ou numa orquestra um instrumentista antes de chegar a sua vez se ergue levemente na sua cadeira, atento tenso para não se perder da harmonia, descansando as costas na sua nova posição para a surpreender com o volume o tom e a teia de preocupações insuspeitas até então.
Recomeçou: Não fui capaz de vos educar, nem a ti nem aos teus irmãos, não fiz a passagem do que aprendi da minha mãe, nada vale tudo o que sabes se não entenderes a linguagem da natureza, a linguagem da terra.
As suas mãos desenhavam no espaço o gesto de quem rasgava a terra, um estranho bailado vindo de tempos ancestrais, as palavras saiam como se fossem definitivas as últimas as essenciais, havia urgência na sua voz.
Nesse dia não tinha compreendido, mas o pai já a alertara: A tua mãe anda um pouco esquecida a médica de família marcou uma consulta para um neurologista.
O médico chamou-a: É a filha mais velha? Sim; respondeu
Continuava de olhos fechados, sentiu o carro parar e ouviu o marido dizer: Chegamos
Era Novembro e chovia, chovia abundantemente.
Lá fora a mãe com um regador, junto ao muro da casa ia regando as pedras, com a aplicação de sempre.

Compreendeu então a urgência das palavras daquele dia, a mãe antes de fazer a passagem para um mundo só dela, sentiu necessidade de lhe passar o testemunho acumulado nos tempos. E chorou.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

MISTÉRIO

MISTÉRIO

No mistério de uma noite sem luar,
Um enigma presente em parte incerta
Uma luz que tento descobrir com o olhar,
Que se esconde e a minha alma aperta


Tempos amargos que impedem de sonhar
Levam-me aos caminhos que não quero,
Entre desesperança, eu sempre espero
Encontrar o caminho a paz e lá chegar.


Chuva, neve e sol em cima dos telhados
E o sorriso de social na moldura,
Desvia os pensamentos mais ousados
De uma alma à beira da loucura.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Vazio

O que foi não mais existe; existe exactamente tão pouco quanto aquilo que nunca foi. Mas tudo que existe, no próximo momento, já foi. Consequentemente, algo pertencente ao presente, independentemente de quão fútil possa ser, é superior a algo importante pertencente ao passado; isso porque o primeiro é uma realidade, e está para o último como algo está para nada. Só a consciência de recomeços nos torna capazes de nos descobrir a nós próprios, não podemos mudar o passado pouco podemos interferir no futuro e o presente se escapa quase sempre entre o nosso agir e o nosso ideal pensado, que nos resta senão o assombro??                                     Um homem, para seu assombro, repentinamente torna-se consciente de sua existência após um estado de não-existência de muitos anos; vive por um breve período e então, novamente, retorna a um estado de não-existência por um tempo igualmente longo. Isso não pode ser verdade, diz ao seu coração; e mesmo com a rudeza das nossas mentes, sentimos algum tipo de pressentimento de que o Tempo é algo ideal em sua natureza. Que a transcendência se transmite pela densidade e intensidade do Tempo.